Entrevista com o jornalista e cronista Paulo Rebêlo, subeditor-sênior do Webinsider

Depois de longas férias forçadas, a colunista e colaboradora do Melhor do Marketing, Jacqueline Viana, está de volta. Para marcar o seu retorno, Jacqueline bateu papo com Paulo Rebêlo, jornalista e cronista, Mestre em Políticas Públicas com especialização em Mídia, Comunicação e Telecomunicações. Para saber mais, visite www.rebelo.org/about.

1 – Conte um pouco sobre a sua profissão, da sua experiência com jornalismo online e do seu trabalho no Webinsider.

Rebêlo – Ganho (e perco) a vida como jornalista desde 1997. Antes trabalhei como programador, técnico em informática e professor de inglês. Comecei no jornalismo online ao mesmo tempo do jornalismo impresso, o que me fez ter uma perspectiva interessante dos conflitos que existem até hoje entre papel e internet. Me acho um pouco dinossauro, porque “mexo” com informática desde os anos 80 e uso internet profissionalmente desde 1994, justamente o ano em que a Embratel teve permissão de começar a ‘testar’ a conexão no Brasil, porque a exploração comercial do backbone deles começou apenas em 1995. O Webinsider começou em 2000, dirigido pelo Vicente Tardin, que me chamou (junto a outros colaboradores) para tentar continuar o trabalho de jornalismo online que a gente fazia junto desde 1998 no Webworld, do IDG. No Webinsider fui freelancer, redator, editor assistente, subeditor-sênior, hoje sou editor especial e acabamos de completar dez anos. O ‘case’ Webinsider é um dos mais interessantes que conheço no Brasil. Falo um pouco de toda essa experiência neste link:

http://webinsider.uol.com.br/2010/07/05/meu-passeio-pelos-10-anos-de-webinsider/

2 –  Em agosto a Interactive Advertising Bureau Brasil (IAB Brasil) promoveu um evento em comemoração aos 15 anos de Internet no Brasil. Da velocidade da informação ao uso da internet nas eleições, para você o que mais mudou neste período?

Rebêlo – É uma pequena revolução no comportamento das pessoas e no relacionamento entre elas. Para quem chega agora ou trabalha com internet há menos de dez anos, deve ser difícil de entender, não sei. Principalmente na área de comunicação, tornou-se comum trabalhar com equipes que aprenderam a ler quando já havia internet… dá um certo nó na cabeça. Poderíamos escrever um livro sobre tanta coisa que mudou mas, particularmente, para mim não existe nada mais significativo do que a popularização do acesso. Estou acostumado a viajar o Brasil inteiro a trabalho e, ainda hoje, me surpreende chegar em lugares remotos onde falta água encanada, falta estrada, falta educação, falta quase tudo, mas tem pelo menos uma lan house, sempre cheia. Pode-se discutir sobre a ‘qualidade’ do que consomem online, é verdade, mas é sempre fascinante para mim, talvez porque sempre me force pensar ainda mais sobre o trabalho que fazemos todos os dias.

3 – O fácil acesso as ferramentas de comunicação digital popularizou alguns canais e levou a um excesso de conteúdo irrelevante na rede. Como ser um bom fornecedor de informação pertinente?

Rebêlo – Não tem segredo, é universal: qualidade e precisão. Não adianta comprar livros de gestão, ir a palestra, fazer curso, workshop, qualquer coisa, se a sua força motriz não for sempre a qualidade do que você entrega. E não se tem qualidade sem precisão. Não sei se estou certo ou errado, se tenho conseguido ou não, mas tem sido meu norte de trabalho em todos esses anos. Exemplo atual: jornais. Não é a internet que está acabando com os jornais, somos nós, os jornalistas. Falta qualidade, não é mais pertinente para ninguém. Se nem jornalista lê o próprio jornal em que trabalha, como cobrar que outros leiam? Na internet é a mesma coisa, televisão, rádio, tudo. Também não é a internet que está tirando o público das novelas da Globo, por exemplo. É a própria Globo. Se muita gente não leva mais a sério a revista Veja ou o Jornal Nacional, é porque há outras ofertas interessantes, talvez com mais qualidade do que tem sido oferecido. Todo mundo quer qualidade, de todas as classes sociais. E você, como profissional, só pode entregar qualidade se tiver precisão no que faz.

4 – Em relação aos políticos que utilizam ferramentas de relacionamento digital, a utilização de tais ferramentas como o Twitter podem trazer bons frutos. De que forma você acredita que a má utilização dessas ferramentas pode prejudicar a imagem dos mesmos?

Rebêlo – O uso de internet na política é um engodo no Brasil. Vai mudar, sem dúvida, mas vai demorar um bom tempo. Entro em detalhes sobre o assunto nesta outra entrevista, recente, aqui –

http://www.rebelo.org/2010/07/efeito-barack-obama-marketing-politico-eleicoes-2010/

5 –  Em um texto você diz sobre o Twitter que: “Abrir mão de saber o que não interessa é um aprendizado libertador”. Como esse preceito pode servir de lição aos produtores de conteúdo, aos novos “gurus e especialistas” de mídia social?

Rebêlo – Não tenho a receita. Sempre houve e sempre haverá gurus e especialistas caídos do céu. Simplesmente porque sempre haverá público para eles. Havendo público, sempre haverá quem pague. Com o conhecimento de mundo e de tecnologia que temos hoje, você acha que David Copperfield faria sucesso agora? Os gurus de hoje são assim. Equivalem aos ilusionistas dos anos 80 e aos mágicos de circo dos anos 70. Encanta a todos que não fazem ideia do produto que está sendo entregue. Por isso que, ainda hoje,  muita gente se encanta quando tiram um coelho da cartola e dizem que é mágica. A palavra-chave é uma só: conhecimento. Sem conhecimento, seu trabalho sempre será impreciso. E um trabalho impreciso é como um texto com erro de português: pode ter conteúdo, mas não tem qualidade.

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