Será que agora vai?
Moramos no Brasil. País onde cerca de 70% da nossa população está na Classe C.
A classe C é a classe média, ganha cerca de 3,5 mil reais por mês, mora em imóveis quase sempre próprios, estão nas principais regiões do país; por mais que a classe AB tenha mais poder aquisitivo, a classe C consome mais. Caberia aqui um trocadilho Classe C de Consumo? Sim acho que caberia.
Estima-se que as classes AB sejam aproximadamente 10% da população brasileira, estimada em 190 milhões de pessoas, ou seja, enquanto as classes com maior poder aquisitivo representam 19 milhões de pessoas, com maior incidência nas regiões sul e sudeste, a classe C possui quase 133 milhões de pessoas, e estão presentes em todo o território nacional, logo é sim a classe que mais consome no país.
Os departamentos de marketing das grandes empresas, e aqui digo de empresas que produzem produtos voltados para todas as classes como refrigerantes, sorvetes, alimentos, roupas, celulares, computadores, canetas, entre outros, estão cada vez mais pesquisando e tentando entender a classe C, seus hábitos, costumes, desejos e ambições.
O fato de uma pessoa não ter dinheiro para comprar uma Ferrari, não significa que ela não tenha o desejo aspiracional de possuir uma; e se essa pessoa hoje é uma pessoa de classe C, mas é um talento e em 5,10 anos, se torna diretor ou presidente de uma empresa multinacional? Um caso em 1 milhão, ok, mas dentre 1 milhão de Gols e Palios vendidos, quantas Ferraris são?
Além da recente política econômica, que contribuiu para o crescimento do consumo de produtos no país, o que eu particularmente chamo de “efeito Casas Bahia” ajudou também.
A maior loja de varejo do país – e diga-se de passagem do mundo – é uma loja voltada para as classes CD, que não tinham como comprar produtos de alto valor agregado como por exemplo uma TV LCD de 42 polegadas por 4 mil reais; agora tem, graças ao “carnê” que possibilita que essa TV seja paga em 24, 30 meses.
Mesmo que os juros sejam altíssimos e o consumidor pague o dobro pela TV, pouco importa, ele deseja ter o produto. E achou a possibilidade de tê-lo. Antes a indústria automobilística já fazia esses “carnês” e comprávamos carros. Porque não TVs, Geladeiras, iPhones, Notebooks?
Com isso, a classe C está consumindo mais e digamos melhor. Antes, a prestação de 400 reais por mês, comprava-se um Chevrolet Corsa em 36 meses. Hoje se compra um Chevrolet Vectra em 72 meses!
Pagava-se 10X de 100 reais e comprava-se um Motorola A1200i; hoje paga-se 24X de 100 reais e você sai da Vivo com um iPhone, um dos objetos mais desejados do mundo!
Andar de Vectra, ter um iPhone há 10 anos atrás era “coisa de rico”. Hoje uma pessoa que ganha 3 mil reais por mês, pode ter e com isso estar inserido no mundo dos ricos, ou melhor, da classe A brasileira. E quem não quer crescer pessoal e profissionalmente?
No mundo capitalista que vivemos, ter objetos de alto valor e desejo – mesmo que pagando em 70 meses – faz com que a pessoa seja percebida de forma diferenciada pela sociedade. E ela gosta disso, logo, quanto mais ela é admirada, mais ela quer consumir e cai nos desejos da moda, como por exemplo comprar um MacBook pelo triplo do preço de um Sony para mexer no Office, apenas para dizer: Eu tenho um Mac!
Diante a esse cenário, as marcas começaram a olhar melhor para a web, e por quê?
Porque a classe C entrou de vez no mundo digital. Mais uma vez, vamos a valores:
Há 10 anos atrás, ter internet banda larga era cara. Hoje por 29,90 você tem Net Virtua de 1 mega! Computadores custavam cerca de 4 mil reais. Hoje com 890 reais no Extra você compra um bom computador, e ainda pagando em 15X de 60 reais, se quiser pagar um pouco mais caro, compra um Notebook por 15X de 89 reais.
Esse efeito gerou uma “inclusão digital” e a classe C está entrando não apenas em sites, mas em Twitter, Orkut, Facebook, está montando seus blogs, está postando e assistindo vídeos no YouTube, está pesquisando no Google, pesquisando preços no Buscapé, comprando no Mercado Livre. Estão aderindo a web 2.0, logo, as marcas devem começar a olhar mais profundamente para sua presença digital!
Vamos entender melhor o porquê olhar com outros olhos para a classe C, que obviamente não tem o mesmo poder aquisitivo de uma classe A ou B, mas que consome muito mais do que eles:
• Cerca de 80% da classe C, diz que “não consegue viver sem computador e internet”
• Entre os casais mais jovens, 44% se declaram dependentes da tecnologia
• 61% dos entrevistados consideram a tecnologia algo que contribui para o bem-estar da família.
• Dos pais entrevistados, 83% estão empenhados em fazer a tecnologia chegar aos seus filhos e sentem-se responsáveis por esta tarefa
• Entre os itens tecnológicos mais desejados pela classe C estão TV de plasma (68%) e o celular com câmera (66%).
Esse efeito fez com que em 2 anos, o Brasil pulasse de 23 milhões de internautas para 65 milhões segundo o Ibope. E as marcas precisam aprender a trabalhar com esse novo movimento. Internet já é a 2ª maior mídia de massa do país, perdendo apenas para a TV. E por pouco tempo.
Em meu livro, Planejamento Estratégico Digital, eu abordo esse tema, de como as marcas precisam se reinventar e começar a trabalhar mais na web, o branding digital é importantíssimo e não apenas para vendas, como muitos pensam.
Internet é muito mais do que isso, é relacionamento, é conteúdo e informação. Se a pessoa entra na web é porque alguma coisa eles estão buscando, senão, o Google não seria o site mais acessado no mundo, com mais de 31 bilhões de pesquisas/mês. Cabe aos planners digitais – e é aqui que eu me encaixo perfeitamente – saber o que as pessoas querem X o que as marcas tem a oferecer!
Foco novamente no crescimento da classe C, porque essa tem que ser ouvida, afinal, se pensarmos em estatísticas, é mais fácil um produto ter sucesso sendo oferecido para 133 milhões de pessoas do que para 19, certo? Estou – claro – me referindo a produtos de massa, o que são a grande maioria do vendidos no mundo.
Meu desejo é que as marcas comecem a olhar a web de outra forma. Não apenas em vendas, vendas e vendas, mas em relacionamento, comunicação focada, segmentação, regionalização e principalmente em conversar com o consumidor de igual para igual. Quem sabe com a “invasão” da classe C, pessoas que só pensam em números não se motivem a estar na web e comecem a planejar ações. Que comece com vendas, ok,mas que eles entendam mais sobre o que é web.
Se não entendem, entreguem as contas nas mãos de agências digitais que entendam. E agências, pensem em ROI para o cliente e não em BV para o seu departamento financeiro!
6 respostas
Acredito que essa clase C ainda vai da muito o que falar…
Oi Felipe, muito legal seu ponto de vista sobre a classe C. Acredito nisso também e defendo esse ponto de vista aqui na FingerTips, desenvolvedora de apps para iPhone. Falando em aplicativos sofisticados para mobile e classe C, creio que uma nova plataforma importante será o Android. Vários fabricantes de celulares, incluindo a Motorola, prometem modelos, provavelmente mais acessíveis. Já estamos de olho nisso tbm 🙂 abs
Fala Felipe, adorei mais este artigo e estou me tornando um leitor frequente de seus artigos. Parabéns pelo conteúdo demonstrado.
Realmente nós da classe C estamos dominando o mercado, em massa como vc citou, mas, um mercado extremamente potencial. Infelizmente algumas empresas ainda não descobriram essa verdadeira máquina de compras.
Gosto muito dos seus artigos sobre web marketing e “derivados”. Acrescentam muito a nosso conhecimento.
Grande Abraço.
O aumento de 23 para 65 milhõee de internautas é impressionante mesmo e revela a forca da Classe C e seu compromisso com a tecnologia.
I’ve seen this post of this blog posted by one of my friends on facebook and I will be sharing it with my other friends Thanks
Gostaria de saber a fonte dos dados que você utilizou no seu texto.
Thanks!