Desde que os conceitos de cultura de massa e cultura elevada foram estabelecidos pelas escolas de Teoria da Comunicação, a formatação dos códigos culturais sofreu diversas modificações em sua essência de maneira a se adequar às características de cada época, tanto no âmbito estético, quanto na estrutura cognitiva. Partindo da premissa que a diferenciação principal entre as duas formas de manifestação existencial está em suas identificações contextuais, pode-se afirmar que suas transformações são permeadas por influências ideológicas, sociais e econômicas. Pode-se afirmar também que a cultura de massa é uma representação simplista da elevada com elementos mais heterogêneos, adaptados ao consumo geral.
Essa adaptação com o passar do tempo tem se tornado mais volátil e dinâmica. Esses fatores têm sido intensificados pela democratização dos MCM’s (meios de comunicação de massa), causada pela facilidade de acesso e de produção da informação. Atualmente, até mesmo a grande massa já é responsável pelo desenvolvimento de conteúdos culturais e pela difusão dos mesmos. Isso somente tem sido possível graças ao avanço das tecnologias que permite aos consumidores se tornarem detentores e delimitadores de sua própria construção cultural, bem como exercer influência determinante em relação à produção dos grandes veículos de comunicação, outrora direcionados pela elite cultural.
Porém, em contraposição às primícias da cultura elevada ou superior, que valorizava as representações sociais de forma mais pura, a atual cultura de massa imprime os anseios da natureza humana, muitas vezes despidos dos moldes da moral e da ética. Como resultado deste fenômeno psico-social, estabelece-se uma falsa dicotomia entre o grotesco e a realidade, à medida que se passa a apreciar nos meios de comunicação, de forma até mesmo prazerosa, recortes da realidade social dotados de todas suas mazelas, como uma representação grotesca da natureza humana. O termo grotesco tem sua origem na Roma do século XIV e representava algo relacionado às antigas grutas e suas similaridades. Atualmente, define-se grotesco como algo ligado ao feio, mal-feito, rude, demente, ridículo, que resulta riso ou mesmo algo em sua forma mais rudimentar, primitiva.
Assim, tem crescido vertiginosamente a presença de conteúdos sui generis nos meios de comunicação, bem como a audiência a esses formatos. Na televisão se tem como exemplos principais, os Reality Shows, filmes que misturam realidade à ficção como Tropa de Elite, os Talk Shows que expõem as deformações sociais e psicológicas das classes menos favorecidas, os jornais sensacionalistas e uma nova tendência, os programas humorísticos com características jornalísticas, que apresentam fatos e personalidades reais em situações satirizadas. Atualmente o público brasileiro tem mostrado maior interesse a conteúdos humorísticos mais próximos à realidade do que os formatos convencionais tão consagrados em décadas anteriores.
A presença do Grotesco nos meios de comunicação de massa tem sido abordada há bastante tempo pelos teóricos da comunicação, porém esta nova forma de se apresentar o humor altera as relações público/meio por modificar a maneira de expor os recortes da realidade social. Na TV aberta brasileira, existem diversos programas que seguem este molde, entre outros o Pânico na TV, da Rede TV, o Furo MTV, o Casseta e Planeta, da Rede Globo, e o CQC (Custe o Que Custar), da Band, o qual merece uma atenção especial por apresentar peculiaridades em sua estrutura estética, plástica e textual, identificadas como pertencentes também à cultura superior. Em diversos quadros de sua grade, além de apresentarem elementos do humor convencional, o programa apresenta situações onde os defeitos da sociedade e de seus líderes são postos em evidência, gerando situações constrangedoras aos responsáveis por essas imperfeições, causando uma projeção da indignação do telespectador que se sente justiçado.
Com a análise de diversas grades programáticas em canais de TV aberta, percebe-se uma mudança de conteúdo, que, certamente é fruto da mudança de preferência do público. Diante deste fato, surge a seguinte questão: Como programas culturais têm abordado o grotesco em seu conteúdo? Analisar esta questão é de suma importância devido à grande relevância que o público vem dando a este molde, possibilitando incorporar aos estudos de comportamento humano, análises sobre os novos formatos midiáticos de expor a realidade.
2 respostas
Muito bem abordado o tema. Essa inovação “midiática” não estaria agredindo a moral humana? A “liberdade de expressão” não têm sido usada de forma incoerente a ponto de usurpar o direito de ir e vir sem que essa pessoa não se sinta ofendida moralmente? É algo a pensar.
realmente, Wesley a grande massa, principalmente o público brasileiro que ocupa o segundo lugar no ranking mundial de usuários de mídias sociais, apesar de ser o 65° em acesso a internet, ainda não sabe como lidar com a liberdade de expressão e a possibilidade de desenvolver ou interagir no desenvolvimento de produtos midiáticos.